sexta-feira, 27 de julho de 2012

Um longo caminho para a Educação


Foto: Nicolas Iory

A população de Canudos Velho - vilarejo do município de Canudos – BA – sofre com a carência de serviços básicos no distrito. A região é uma das poucas que presenciou a Guerra de Canudos (1896 – 1897) e não foi inundada com a construção do açude de Cocorobó, concluída em 1969, o que obrigou a maior parte dos moradores da cidade a se mudarem para outros distritos de Canudos.

Esse isolamento faz com que os moradores do vilarejo busquem a maior parte dos serviços em distritos próximos: uma saga que faz parte da rotina dessas pessoas desde o ingresso na escola. Muitos estudantes acabam desistindo da formação escolar devido à necessidade de percorrer um circuito pela cidade.


A única escola da comunidade oferece o ensino até a quarta série. Após isso, os alunos precisam ir estudar em Bendegó, há nove quilômetros de distância. O ensino médio pode ser feito em Canudos Novo, que fica há cerca de vinte quilômetros. Lá, os estudantes poderão se formar em pedagogia: o único curso de nível superior oferecido pela UNEB (Universidade Estadual da Bahia). Para ter formação em outra área, o estudante tem a opção de viajar até o município de Euclides da Cunha, há setenta quilômetros de Canudos Velho.


Adailson de Santana, 30, é professor da Escola Municipal Alto Alegre há dez anos. Ele conta que a maioria das crianças frequenta a escola, mas nem todos tem interesse pelos estudos. “Muitas crianças perdem a vontade de estudar quando tem que ir até Bendegó. Lá elas começam a querer curtir e, como não tem dinheiro, acabam largando os estudos para trabalhar”, contou.


O estudante de pedagogia participante do Projeto Canudos 2012, Gabriele Marchegiani, acredita que falta empenho coletivo na educação dos jovens de Canudos Velho. “Muita gente quer um futuro melhor para as crianças, mas não há confiança. É preciso que a família e a escola façam projetos juntos para gerar uma expectativa positiva, porque esses são os primeiros lugares onde as crianças recebem educação”, declarou.


A estudante Francilene Silva Neves, 15, está no ensino médio e pretende ser médica.  Seu pai, o senhor José da Silva Neves, 57, é quem a leva para a escola e a incentiva a estudar. “A gente não tem ninguém formado na família e o que eu puder fazer para ela ter uma profissão no futuro eu faço. Quando ela for fazer a formatura, eu até arrumo outro serviço para conseguir pagar para ela”, disse.


por Nicolas Iory

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sem contar com serviço de coleta, o lixo vira cinzas em Canudos Velho


Foto: Nicolas Iory


O lixo gerado pela população de Canudos Velho tem um destino certo: o fogo. A prática de incinerar os resíduos domésticos é adotada pela população do distrito, que não dispõe de serviço de coleta e lixões.

Segundo levantamentos do IBS (Instituto Brasil Solidário), que atua na comunidade há dez anos, existem cerca de 120 famílias vivendo em Canudos Velho. Essas pessoas acumulam o lixo para fazer a incineração por conta própria em algum canto no quintal de casa ou à beira da estrada.

De acordo com o coordenador de Biologia e Engenharia Ambiental do Projeto Canudos 2012, Renan Carrenho, a queima do lixo a céu aberto é proibida por lei e pode provocar danos à saúde das plantas, animais e humanos. "Esse problema pode ser ainda maior em Canudos, uma vez que a queima do lixo é feita onde os animais e plantas para consumo humano vivem, além da proximidade ao açude, que é de onde vem a água que a população utiliza", disse.

A dona de casa Elisângela Santos Cardoso, 30, reclama da falta de serviços de coleta no distrito de Canudos Velho. “A gente tem que queimar tudo porque não há ninguém que recolha. Eu bem que gostaria de não precisar se livrar do lixo desse modo”, contou.

Segundo o estudante de biomedicina, Gabriel Dias Malvão, outro fator negativo causado pelo acúmulo de lixo é atrair insetos que podem trazer infecções e gerar diversos problemas para a saúde.

por Nicolas Iory

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Isolados no sertão baiano


Foto: Nicolas Iory


Na terra onde um dos andarilhos mais ilustres do sertão nordestino interrompeu a sua caminhada, muita gente também tem dificuldades para ir e vir.

Segundo dados do Detran (Departamento de Trânsito) baiano referentes ao mês de janeiro deste ano, a frota de veículos cadastrados em todo o município de Canudos é de apenas 1234 veículos para uma população de cerca de 15 mil pessoas.

O distrito de Canudos Velho não possui postos de atendimento do Detran. As pessoas que necessitam tirar carteira de habilitação ou licenciar um veículo precisam ir ao município de Euclides da Cunha, localizado a setenta quilômetros de distância.

Outra dificuldade encontrada pelas pessoas do povoado é a falta de transporte público. Muitos usam a bicicleta ou animais para se locomover e, aqueles que também não possuem esses meios, precisam ir a pé.
Grande parte dos serviços que a população de Canudos Velho precisa só pode ser encontrada em comunidades próximas. É o que aconteceu com Gidivan Cardoso, 26, que precisou comprar uma chuteira e teve que ir até Euclides da Cunha.

A viagem para a cidade custou R$ 14, o que corresponde a 50% do que Gidivan pagou no calçado de R$ 28. “Eu precisei pegar carona até Bendegó para tomar o ônibus. Se eu tivesse que ir a pé até lá levava mais umas duas horas”, disse.

José Inácio da Conceição, 19, usa a moto do primo mesmo sem ser habilitado. “Por aqui não tem fiscalização, mas eu ainda penso em tirar a CNH, um dia. Eu uso o capacete só de vez em quando, porque não acho necessário só para ir até as comunidades próximas”, contou.

por Nicolas Iory

O pão de cada dia vem do açude


Foto: Nicolas Iory


Apesar das polêmicas que envolveram a construção do açude de Cocorobó, concluída em 1969, o sertanejo de Canudos soube aproveitar a chegada das águas para tirar o seu sustento através da pesca.

Madalena Oliveira, 63, é uma das diretoras da colônia de pescadores “Z-45”, um grupo que conta com 230 pescadores do açude. “Já fomos cerca de 300, mas a seca está levando muitos pescadores a arrumar emprego em outros lugares”, disse.

A seca que atinge a região de Canudos já baixou o nível da água em cerca de vinte metros. Com isso, o rendimento dos pescadores não vem sendo muito animador. “Antes a gente pegava até trinta quilos em um dia. Agora, quem pega dois quilos é rei”, declarou.

O trabalho dos pescadores é dividido em duas jornadas diárias. A primeira começa antes do amanhecer, por volta das cinco horas da manhã, e é interrompida em torno das dez horas para a alimentação e descanso dos pescadores. Após o meio dia, os canudenses voltam ao açude em busca das tilápias, traíras, pescadas e tucunarés, onde trabalham até a hora do sol se pôr.

Dona Madalena é pescadora há quarenta anos. Ela diz que não há preconceito dos homens e que existem muitas mulheres trabalhando no açude. “A mulher trabalha até mais que o homem, porque a gente precisa remar, tratar o peixe, emendar as linhas e ainda preparamos tudo quando chegamos em casa”, afirmou.

Os peixes que saem do açude de Cocorobó são vendidos na região ou consumidos pelas famílias dos próprios pescadores. Dona Madalena mantém um bar onde vende os peixes que ela própria captura e também os que compra de outros pescadores. “Comprei cinquenta quilos ontem e já acabou tudo. Eu os preparo fritos e cozidos e o pessoal gosta bastante”, disse.

O trabalho das colônias de pescadores garante a remuneração e seguro desemprego junto ao Ministério da Pesca e Aquicultura. Para fazer parte da colônia “Z-45”, o pescador precisa pagar uma taxa mensal no valor de R$ 6.

por Nicolas Iory

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O que comem os canudenses

Foto: Nicolas Iory

Quem vai à Bahia costuma voltar encantado e um pouco mais condimentado. Mas nem só de vatapá e acarajé vive o canudense. Responsável pela alimentação de toda equipe da Universidade Metodista de São Paulo e da Faculdade de Medicina do ABC, a comerciante Maria de Lurdes Ramos Alves da Silva – ou Tontom, como é mais conhecida – contou as diferenças da dieta baiana comparada à dos paulistas.

“Nosso café da manhã se resume a cuscuz com ovos, carne e café”, afirmou Tontom. Segundo ela, raramente se come pão e tapioca, pratos constantes no cardápio matutino da equipe.

No almoço, temos o tradicional arroz, feijão, salada e bife. Mas ao contrário do sudeste, o tradicional bife de carne bovina é substituído pelo bode. Para o jantar, a comerciante destacou a sopa e o baião de dois – arroz e feijão misturados – como pratos principais.

O peixe também é presença marcante na dieta da população local, que tem sentido falta da carne branca no cardápio por conta da seca. Sem chuva desde novembro do ano passado, o baixo nível do açude tem prejudicado o trabalho dos pescadores e das cozinheiras.

Seja ciscando nos quintais, seja ao molho, o frango também complementa a alimentação. É a alternativa mais leve para quem ainda não se acostumou ao forte sabor da carne de bode.

A paisagem local abriga muito do que acaba nos pratos. Os principais temperos e condimentos são o coentro, cebola e pimenta de cheiro, cultivados nas hortas espalhadas pelo distrito. Entre os vegetais, estão o tomate, pimentão e alface, reconhecíveis sabores das saladas que acompanham almoço e jantar.

Muito conhecida e popular no sudeste, a famosa buchada de bode não é presença diária no menu regional. “Só comemos de vez em quando, em alguma ocasião especial”, disse Tontom.

As frutas típicas também são destaques nos sucos e doces da região. Acerola, goiaba, seriguela, banana, fruta do conde (conhecida como pinha) e a graviola compõem a alimentação dos baianos típicos de Canudos Velho.

por Elsa Villon

terça-feira, 10 de julho de 2012

Estica e puxa

Foto: Nicolas Iory

Um dos serviços de saúde realizados no Projeto Canudos 2012 é a fisioterapia. Esta é a primeira vez que a modalidade é oferecida em um projeto na comunidade de Canudos Velho.


A equipe de fisioterapeutas, formada por três estudantes da Universidade Metodista de São Paulo, passa orientações de postura, automassagem, medidas preventivas para cada caso e dicas de alongamentos para a população canudense.


André Hamada, um dos estudantes de fisioterapia no programa, conta que está aprendendo muita coisa com os atendimentos. “A orientação fica presa aos diagnósticos pelo pouco tempo que nós temos disponível na cidade, mas está sendo muito bom para nós. Muita gente daqui até já conhece a fisioterapia e o pessoal tem gostado bastante”, disse.


O pedreiro Francimario Ferreira de Souza nunca havia passado por um fisioterapeuta antes. Ele recebeu dicas de alongamentos para evitar as dores que sente nos braços devido ao seu trabalho. “Gostei bastante do atendimento. Tem muita coisa que eu não conhecia e agora eu sei que posso aliviar a dor no corpo. É como se fosse um remédio”, contou.


Nos momentos de folga, a equipe de fisioterapia tem perdido um pouco do tempo de descanso para fazer massagem nos outros integrantes do Projeto Canudos, uma ideia da estudante Joice Santos. “Muita gente estava se queixando de dor e trabalhando em posição desconfortável. Queremos dar um pouco mais de conforto para quem está atuando aqui com o grupo”, afirmou.


As atividades dos fisioterapeutas são realizadas até o dia 5, das 8h às 17h, em frente à base do IBS (Instituto Brasil Solidário).

por Nicolas Iory

“Para todo mal há cura”

Foto: Nicolas Iory

Uma farmácia com cerca de 850 tipos de medicamentos foi montada para trabalhar em conjunto com os demais serviços de saúde oferecidos no Projeto Canudos 2012. Os remédios são receitados pelos estudantes do quinto ano de medicina que estão examinando toda a população de Canudos Velho.

O serviço dispõe de medicamentos para diversas doenças, como febre, alergias e viroses. Segundo a estudante de farmácia, Cláudia Oliveira, 21, os remédios mais procurados até o momento são os indicados para bactérias e parasitas no corpo. “Foram 546 comprimidos para essa finalidade em sete dias de atendimento. Também procuraram muitos remédios para dor de cabeça e no corpo”, disse.

Os medicamentos oferecidos na farmácia foram doados por indústrias farmacêuticas para a Universidade Metodista de São Paulo. Segundo Cláudia, faltaram alguns remédios para controle da pressão e dores no corpo.

De acordo com a coordenadora de medicina no projeto, Soraia Rossi, o serviço é essencial para os atendimentos. “Sem os medicamentos a medicina fica de mãos atadas. A carência dessa população é grande e, se a gente não der a eles, eles não tem como conseguir por aqui. Sem a farmácia, o projeto fica manco”, declarou.

Os comprimidos anticoncepcionais estão sendo distribuídos em quantidades suficientes para um período de cerca de um ano e ainda há muitos disponíveis, segundo Cláudia. De acordo com a estudante, o número de preservativos entregues no projeto já passa de 430, em sete dias de distribuição.

por Nicolas Iory